
Não sou o que fui, muito menos o que pensei poder ser. Desconheço as razões que me levaram a seguir esta direcção. Sou apenas do mundo porque nele nasci, e do ar que respiro porque sem ele nunca sobrevivi. De resto, sinto-me como a água pelos rios rumo ao mar, como o sol das manhãs e a lua das noites. Recordo-me na chuva que por vezes me lava o rosto, e anseio pelo pálido sol que teima em iluminar a minha demanda. Transformo-me na pedra basilar que me sustenta o corpo, quando vagueio pela calçada dessas ruas em busca de amparo. Porque, na pele que trago vestida já não há espaço para ferir, nem tempo para sarar. As cicatrizes d’outrora ocupam o espelho do que há-de vir. Acreditei ser possível deixar de sentir, o sabor do sal nas lágrimas, que vieram pela mesma porta estreita em que vos deixei entrar. Aquela porta que fechei a sete chaves para que mais ninguém ousasse arrombar. Sou de todos mas de ninguém, porque não sei ser apenas nada.
Sem comentários:
Enviar um comentário